sábado, 3 de maio de 2014

O AMANTE DA ESPOSA DO DR. ALVARENGA


A noite vinha chegando com a lua cheia soberana no céu. E na rua o ar abafado castigava os passantes. O casal estava sentado num dos sofás do amplo living do apartamento de cobertura, enquanto aguardava a chegada do Marlon.

“ - Que rapaz decente esse teu novo amante, meu amor! Estou encantado com ele!”, Disse o Dr. Alvarenga, quase setentão, para a Nicole, sua linda e jovem esposa.

E continuou o doutor, após servir em duas taças um champanhe com legítimo sotaque francês: “ - porque aqueles outros, por favor, Nicole, eram uns animais, uns exploradores brutos e ignorantes. Não passavam de gigolôs que só queriam o nosso dinheiro. Uns pobres coitados, sem postura e educação. Eles, que não podíamos levá-los ao cinema, no teatro, nos museus, nos finos restaurantes que frequentamos; na casa dos nossos amigos, nem pensar; seria fiasco na certa. Bem sabes que o nosso grupo social não tolera grosserias!”

“ - Agora, esse teu novo amante, o Marlon, esse tem estirpe. É um homem culto, apreciador de obras de arte e da boa literatura. Imagina só, Nicole, o Marlon recita o Fernando Pessoa por inteiro, mais o Drummond e o Quintana. Sinceramente, meu bem, esse moço foi um achado.”

“ - Claro Alvarenga querido, o Marlon é realmente uma pessoa culta, sem falar que é muito bonito, um Adônis de tão belo. Tanto é que as mulheres dos nossos amigos estão todas morrendo de inveja. Lembra sábado passado na festa de aniversário da Eremita, que elas não tiravam os olhos dele? A Jacira, a mulher do general Afrânio, toda assanhada, só faltou agarrar o Marlon pelo pescoço e sumir com ele para dentro de uma das suítes da mansão”, falou a Nicole.

“ - É que elas, minha querida, só andam com esses caçadores de mulheres ricas. Esses idiotas vazios, despreparados, incultos, que não sabem sequer conversar. Então é natural que elas sintam ciúmes, porque o Marlon, além de fino e preparado, parece um galã de cinema americano”, disse o Dr Alvarenga.

Renovando a champanhe nas duas taças de cristal, continuou o Dr. Alvarenga: “ - nossa viagem para a Europa, semana que vem, será um sucesso. Vai ser a tua lua de mel com o Marlon. Estou muito feliz, Nicole, por você estar com essa jóia de rapaz!”

“ - Deixa eu falar”, aparteou a Nicole. “ - Vamos revisar os últimos amantes que tive: o Evilásio, sujeito tosco que não sabia lidar com os talheres, mas era um monstro insaciável na cama. O Jaílson, quase analfabeto, porém me satisfazia dos pés ao último fio de cabelo. O Adolfo, mais rude não podia ser, só falava palavrão, mas me matava de tanto prazer. O Isidoro era um bêbado depravado, um escravo que atendia todas as minhas vontades, se esmerava para aquietar meus mais secretos desejos. O Álvaro era viciado em baralho, um boêmio inveterado, porém conhecia os segredos do sexo para fazer tudo aquilo que uma mulher precisa. O Teotônio, um sádico profissional, o maior cafajeste do mundo, só queria saber de dinheiro, roupas caras e relógios de ouro, mas era touro insaciável quando partia para cima de mim. Todos eles imprestáveis como seres humanos, no entanto, amantes espetaculares, garanhões de primeira grandeza. Isso você sabe, porque muito disso você assistiu. Os abandonei por pura implicância tua para com eles, Alvarenga!”

“ - Mas agora temos, ou melhor, você tem o Marlon, esse homem que é um tesouro”, disse entusiasmado o doutor.

“ - Não quero mais saber de viagem à Europa e de lua de mel com Marlon nenhum, porque tem um detalhe muito importante, meu querido! Disse a Nicole.”

“ - Não vais me dizer que...”

“ - Isso mesmo. Nessas duas semanas deu para perceber que ele não é muito chegado. Parece você, Alvarenga. Não é o Marlon, um macho cumpridor.”

A Nicole levantou do sofá, bebeu com impaciência duas taças seguidas de champanhe, olhou firme para o marido e desabafou: “ - sabe de uma coisa?! Quero aqueles meus animais de volta. Estou cheia de homem frouxo, bonito, educado e culto!”

O Dr. Alvarenga atendeu o interfone. Falou para o Marlon que a Nicole tinha mudado de ideia.

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